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terça-feira, 7 de junho de 2016

Um dia esse alguém vai chegar.

Desde que você saiu pela minha porta, o que mais me fez falta não foi você, fui eu. Sinto saudade daquela garota que não tinha medo de nada. Falava pelos cotovelos, sorria por amar intensamente e se despia de preocupações, opiniões e roupas todo o fim de tarde na sua cama. Já nem reconheço no espelho a mesma face que antigamente se olhava no reflexo da pia do seu banheiro sem se importar com a maquiagem borrada ou apagada depois do banho. Dali, a gente pulava direto pro sofá, pra falar de futebol e gastronomia por horas seguidas, sem papas na língua, em boa companhia para ouvir e discutir com humor e uma panela de brigadeiro enrolada no pano de prato antigo da cozinha. Era uma mistura de liberdade, amor e alegria por sair do casulo, para, de fato, confiar e viver. Levava a vida ao ritmo de Maria Gadú, pulando ladrilhos na ponta da sapatilha e cantarolando "Gosto muito de você, leãozinho" enquanto sorria em plenas segundas-feiras chuvosas e caóticas de Porto Alegre. Eu não precisava de mais nada, pois tinha a mim pela primeira vez, e tinha você para me fazer cada vez mais eu. Vi meus defeitos, trejeitos e detalhes no reflexo esverdeado da sua íris. Fechava os olhos e pensava que os problemas não tinham prioridade nem tempo, só você. Tampouco importava o que é que a gente tinha, contanto que continuasse tendo. Gostei de saber mais de mim. Era uma segurança que nenhum batom vermelho e tubinho preto de sábado à noite me dariam. Nada me tirava da cabeça que agora sim, eu estava completa. E como eu disse, era um amor compartilhado mesmo. Pois cada sorriso de canto que cê me dava refletia em minha alma. E, cá pra nós, seu sorriso ilumina o dia de qualquer um! Por isso, o que eu mais sinto saudade mesmo é de tudo o que eu era por estar com você. Cada segundo era livre, impulsivo, sem medo do que se podia pensar. Porque eu tinha a certeza absoluta: eramos eu e você sem roupa e sem vergonha, prontos pra preencher nosso espaço e se entrelaçar num encaixe perfeito no canto direito da cama. Só assim eu soube o que era ser feliz por completo. É claro que o seu sorriso, suas costas largas, seus olhos verdes, tudo isso deixou saudade também. E se esquecer o amor por alguém dói o peito, o que leva um pedaço de si próprio dói a alma. Mas desde que você se foi foi assim. E parece que por aquela porta, naquele domingo estranhamente ensolarado de junho, eu via meu eu preferido indo embora de mim junto com você.