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terça-feira, 16 de junho de 2015

Carpinejando...

Minha mãe e eu sempre fomos muito próximas a ponto de querer compartilhar todas as paixões e apatias da vida. Em meio a leitura cotidiana de jornal há um bom tempo atrás, ela me chamou e me entregou um pedaço de jornal com a coluna daquele que viria a ser o meu grande mestre da escrita. 
Com o tempo, fui junto com ela compartilhando essa admiração que ela me emprestou e dividiu, e fui acompanhando cada vez mais seu trabalho e me apaixonando cada vez mais pelo jeito como escreve. Não perdi nada, e a pergunta ofegante sempre aparecia entre nós "JÁ LEU O TEXTO DE HOJE?", e depois disso comentávamos felizes sobre o que ele tinha escrito aquele dia. 
Entrei na faculdade de jornalismo, e logo no primeiro dia respondi, quando perguntada por qual seria minha inspiração pelo meu colega Felipe, que era Fabrício Carpinejar. Até que fomos informados que no fim do semestre teríamos de realizar uma entrevista com o jornalista que mais gostamos. Preciso responder quem eu escolhi? Vou contar pra vocês um pouco mais sobre meu trabalho e entrevista com Fabrício, espero que gostem.

Com um simples comentário no twitter falando seu nome, mal sabia eu que atraía as atenções de quem almejo um dia ser. Fabrício Carpi Nejar, 42 anos, gaúcho nascido em Caxias,  jornalista, poeta, escritor e professor universitário, havia me enviado uma mensagem no twitter agradecendo o carinho por ter dito “sou só amores ao carpinejar <3”. Honrou a fama de simpático e querido. Sabendo que contataria ele mais tarde para a realização da entrevista com o jornalista que me inspira, aproveitei a conversa regada à cumplicidade para sugerir a entrevista. Prontamente, Fabrício aceitou antes mesmo que eu terminasse de explicar a proposta para 1 mês depois. É compreensível que o pai de dois filhos, autor de mais de 20 livros, colunista da ZH, Donna, Istoé, O globo, apresentador de A máquina, comentarista na Rádio gaúcha, no Encontro com Fátima e ainda professor universitário, não teria assim tanta disponibilidade. 
Minha super-mãe pegou o número de celular dele para, a partir daí, eu relembrar ele e marcar nossa entrevista. Ele me atendeu, e conversamos diversas vezes. Bem que tentamos, entre ligações, e-mails, viagens, entrevistas, trabalho, médico. Eram ligações e remarcações de data. Não tive a oportunidade de entrevistar pessoalmente o homem conhecido por sua autenticidade e excentricidade, com palavras escritas no corte de cabelo, roupas extravagantes, unhas pintadas e a leveza em se dizer um homem feio, mas legal. No final do segundo tempo, um e-mail na minha caixa de entrada respondia minha, inicialmente tristonha, sugestão de entrevista via e-mail. Fabrício havia respondido a todas as perguntas, com seu carisma de sempre. Feliz, pois minhas, realmente minhas, curiosidades haviam sido sanadas por ele próprio. E me encanta cada vez mais a sutileza e a percepção de quem eu considero o mais sábio com as palavras. Na entrevista, ele mesclou humor e seriedade falando objetivamente sobre suas inspirações, paixões, objetivos e aventuras como jornalista.

Jheine: Sei que tu és formado em jornalismo pela UFRGS. O que te levou a seguir a profissão de jornalista?
Fabrício: A contação de história, possibilidade de fazer perguntas despretensiosas, a curiosidade de aprender com as diferenças.

Jheine: Como foi a construção da tua carreira como jornalista? Quais foram as dificuldades encontradas para chegar até onde estás hoje?
Fabrício: Segui duas carreiras paralelas, de jornalista e escritor, que raramente se cruzaram. Minha maior dificuldade no jornalismo era deixar o texto menos carregado e menos pessoal. Ou seja, o contrário da literatura. No jornalismo, precisamos da invisibilidade, ser o mais próximo de todas as versões para repassar o poder de decisão ao leitor. Já o escritor é enxerido. Ele intervém emocionalmente nos fatos. 

Jheine: Quem é o teu maior ídolo?
Fabrício: César Vallejo, escritor peruano que viveu no exílio em Paris, mas nunca deixou sua infância.

Jheine: Qual foi o trabalho mais marcante pra você dentro do jornalismo?
Fabrício: A série Beleza Interior feita para o Jornal Zero Hora.

Jheine: É visível que sua vida é totalmente corrida e que você não tem tempo pra muita coisa. Mas o que você gosta de fazer quando tem tempo livre?
Fabrício: Nadificar. Ou seja, não atender telefone, interfone, nem despertador do coração.

Jheine: Vi que teve um grande engajamento para arrecadação de fundos para realizarem a Feira Literária de Passo Fundo. Com base na reafirmação de que ela não vai acontecer, e que um evento tão importante não teve tanto incentivo, como você avalia a preocupação do governo com relação à literatura?
Fabrício: O governo não tem mais nem orçamento para saúde, segurança e educação. Olha a dificuldade de vários estados em chegar ao piso para professores. O governo estadual deveria ter vergonha na cara e extinguir a secretaria de cultura, é só fachada. A maior fonte vem da Lei de Captação de Incentivos via iniciativa privada.

Jheine: Qual foi o maior mico que você já pagou como jornalista?
Fabrício: Passei um vexame quando tive que ligar para Caio Fernando Abreu em uma sexta-feira 13 para perguntar sobre superstição. Me senti fútil e o escritor soltou os cachorros em mim. A pior coisa são as pautas de calendário. Fiquei muito triste porque era meu escritor predileto. 

Jheine: Você sempre foi reconhecido pelas suas produções e são visíveis pelo retorno que teve no lançamento de tantos livros. Mas este ano, na minha opinião, as coisas se tornaram muito maiores pra ti e o reconhecimento foi muito grande, principalmente depois das participações no programa Encontro. Como você recebeu essa mudança? Te impactou?
Fabrício: Humildade é trabalho, nunca olhar para trás. O que eu penso é que preciso escrever 5 textos por semana e tenho foco, não sofro com avaliações do que sou o do que me tornei.

Jheine: Você já tem mais de 20 livros publicados, além de quase infinitas crônicas e textos. De onde vem tanta inspiração?
Fabrício: Sou um bom ouvinte Cuidado com o que conversas próximo de mim. Meus amigos já sabem que há grandes chances de eles se transformarem em personagens.

Jheine: Quando você resolveu unir a paixão por literatura com o jornalismo?
Fabrício: Só houve essa fusão quando já era conhecido e fui convidado a ser cronista da grande imprensa. Ou seja, no jornalismo eu exerço papel literário. 

Jheine: Qual teu maior sonho, depois de tantos realizados?
Fabrício: Ganhar a Califórnia da canção nativa de Uruguaiana. Só que tem um único problema: eu não canto

Jheine: Sempre que se fala em jornalismo, se fala na dificuldade relacionada à rotina. Você que tem a ZH, O globo, istoé gente, o blog, encontro, A máquina, a rádio Gaúcha, é professor , como encontra tempo pra família e pra você mesmo e como é lidar com essa correria diária?
Fabrício: Eu faço a inversão: a família é minha prioridade. O trabalho é que tem que encontrar tempo pra mim. 

Jheine: Você escreve pra vários lugares, mas trabalha com o visual em A máquina, faz comentários na rádio gaúcha e já trabalhou como assessor. Qual é a área do jornalismo que mais gosta?
Fabrício: A geral. A possibilidade de pescar o sobrenatural da banalidade.  

Jheine: Você já entrevistou um grande número de artistas e grandes nomes. Mas se tivesse a oportunidade de entrevistar alguém, quem seria?
Fabrício: Chico Buarque.  

Jheine: Qual o conselho você dá pra quem está iniciando na carreira de jornalismo?
Fabrício: Seja teimoso. Faça de conta que está cumprindo tudo, mas cumpra mais do que foi pedido.  
Espero que vocês tenham gostado, e compartilhem do mesmo amor pelo Fabrício. Contem nos comentários quem vocês mais admiram como profissional, estou curiosa.
Beijinhos de luz. 

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